Falta de água na cidade é assunto de reunião entre Legislativo e SAAEJ

por Ana Paula publicado 29/08/2018 19h57, última modificação 16/11/2020 09h01
Duas razões foram apontadas como causas para a falta de água em Jaboticabal: uma por problemas de manutenção de rede, e a outra, pela falta de oferta de água.

Os vereadores da Câmara Municipal de Jaboticabal receberam o presidente do Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Jaboticabal (SAAEJ), José Carlos Abreu, para tratar da falta de água que atinge alguns bairros da cidade, como o Morada Nova, o Jardim Perina, entre outros. A reunião, aberta pelo presidente da Casa, Dr. Edu Fenerich (PPS), ocorreu na sala de reuniões Aldo Senen, no dia 22 de outubro.

Duas razões foram apontadas como causas para a falta de água em Jaboticabal: uma por problemas de manutenção de rede, e a outra, pela falta de oferta de água. É o que apresentou aos parlamentares o dirigente da autarquia, que realizou recentemente um estudo do zero, com sua equipe, já que até a poucos meses, sequer contava com um mapa da rede para saber por onde passam as tubulações de abastecimento de água da cidade.

Hoje, sabe-se que Jaboticabal possui cerca de 380 quilômetros de rede de distribuição de água enterrados há décadas, e que boa parte, precisa ser trocado. “O estudo da rede, capacidade de produção e consumo, foi feito agora. Se tivesse sido feito no passado, a situação poderia ser outra”, considerou o secretário de Governo, Wellington de Caiado Castro, que também participou da reunião.


Presidente do SAAEJ, José Carlos Abreu, explica sobre a falta de água na cidade.

Entre os vilões para a falta de água está a deterioração das tubulações, das bombas de captação, de materiais e equipamentos, e principalmente, a inexistência de setorização para a distribuição de água. “Estamos com um ativo totalmente sucateado. Temos que começar do zero para recuperar o SAAEJ”, pontuou Abreu.

Ainda conforme Abreu, a rede de abastecimento da cidade é toda interligada. “Hoje, se acontece uma ruptura na rede no Colina Verde. Eu tenho que parar praticamente o bombeamento do poço da rodoviária para poder consertar uma rede que estourou aqui no Colina. Todo o restante onde é atendido pelo poço, é afetado. O correto é a cidade ser setorizada”, avaliou o dirigente da autarquia. Segundo ele, é preciso ‘cortar a cidade’ em 18 setores, assim “se você tem um problema em um determinado ponto, você isola somente aquele setor, e pode avisar as famílias daqueles bairros que vai faltar água por um período, mas o restante vai ter água. Como hoje nossa rede é toda interligada não conseguimos fazer isso, nem fechando registro. Temos que parar a bomba. Aí vêm as reclamações da falta de água. Por vezes um vazamento não tem nada haver com a casa da pessoa, mas ela sofre também”, explicou.

Já quando o assunto é a falta de água por conta da oferta, a ausência de um sistema de logística de distribuição é o principal gargalo a ser resolvido. “Temos água mais do que suficiente para atender a cidade de 70 mil habitantes. Mas por que falta água? Porque até hoje não foi feito nenhum trabalho para a logística de distribuição”, disse o presidente do SAAEJ. Para ele, um ponto crítico para a oferta da água está no reservatório localizado na José da Costa. Apesar da sua capacidade de reservar 2,5 milhões de litros, a água que sai da ETA não consegue chegar até lá. O mesmo acontece com o reservatório da Morada Nova.


Abreu apresenta breve resumo de estudo feito por ele e por sua equipe sobre o sistema de abastecimento de água de Jaboticabal.

“Como a rede é toda interligada, a água que deveria ir para o reservatório da José da Costa acaba seguindo também por outros caminhos. Soma-se a isso que, durante o dia, todos usam a água para cozinhar, limpar a casa, lavar roupa, para higiene pessoal, então o reservatório começa a baixar, e sem água suficiente, temos que desligar a bomba. Isso leva à falta de água. Durante a madrugada, também temos que desligar a bomba porque joga água fora. No caso do Morada, o reservatório já tem mais de 20 anos, e foi criado para ser um reservatório auxiliar. Mas o bairro foi crescendo, outros bairros criados, e agora esse reservatório passou a ser principal com característica de auxiliar. O que tem que ser feito? O grande desafio é fazer com que essa água que está na ETA chegue livre e direto no reservatório do José da Costa, e também no da Morada Nova. Já começamos o trabalho”, garantiu Abreu.

PARA SABER – 70% da água que abastece a cidade vêm do Córrego Rico (fonte superficial), 25% dos poços artesianos e semi-artesianos (fonte profunda), e 5% do dreno da Estiva. Até chegar à torneira das casas, a água começa seu percurso por meio de uma bomba, que faz a sucção da água do rio/poço, que segue para a Estação de Tratamento de Água (ETA).

A bomba do córrego, instalada há décadas, capta cerca de 600 metros cúbicos de água a um custo mensal de R$ 180 mil de energia elétrica. O estudo aponta a necessidade da troca do equipamento, para possibilitar um aumento para 900 metros cúbicos com redução na conta de energia, que pode chegar à metade do valor pago atualmente. “Viemos perdendo eficiência de captação por motorização, bombas”, contou o dirigente.

Ao chegar na ETA, a água passa por vários processos: floculação, decantação, filtração, desinfecção, fluoretação e correção de PH; somente depois de se tornar potável, a água segue para os reservatórios de distribuição, onde fica acumulada para atender a demanda de consumo.

De toda água distribuída, cerca de 90% é feita por pressão, ou seja, é pressurizada na rede através de boosters. Enquanto os parâmetros normais para água pressurizada variam entre 15 e 30 m.c.a (metros de coluna de água), em Jaboticabal, há pontos da cidade que chegam a 84 m.c.a. Esta alta pressão muitas vezes leva a rompimentos na tubulação e, consequentemente, necessidades de reparo, sendo necessário o corte no fornecimento e deixando muitas famílias sem água. “Se todas as torneiras no trajeto da água estiverem abertas e as caixas vazias, praticamente você não tem muita pressão. A hora que você começa a fechar torneiras e registros, a pressão começa a aumentar, e é aí que estouramos a nossa rede, que é muito antiga e precisa ser trocada”, explicou o dirigente do SAAEJ.

Enquanto o nível nacional de avarias em rede está em torno de 0,35 por quilômetro de rede, em Jaboticabal, esse número sobe para 2,85. Isso significa que “a cada quilômetro de rede, a média nacional é de 0,35 quebras. A nossa passa de 2,85, ou seja, a cada quilômetro a gente tem quase três rupturas de rede na cidade. Imagine que hoje nós tenhamos na faixa de 70 rupturas por mês. Nós trabalhamos 20 dias por mês, ou seja, temos aí basicamente mais de 30 rupturas para resolvermos por dia. É muito alto o número de rupturas que acontece em Jaboticabal”, pontuou Abreu.

O QUE FAZER? – Da série de perguntas feitas pelos vereadores acerca do que será feito para resolver os problemas, o dirigente da autarquia elencou uma série de ações que deverão ser colocadas em prática a curto, médio e longo prazo, entre elas: a instalação de uma válvula redutora de pressão, que marca o início da setorização da distribuição e do controle de perdas de água em Jaboticabal; a setorização e a logística de distribuição; a contratação da telemetria, para o monitoramento que possibilite encontrar onde estão as perdas; a substituição do revestimento do reservatório do bairro Alto, com capacidade para 2,5 milhões de metros cúbicos, que atende onze bairros; a troca da bomba do córrego rico, a fim de aumentar a produção e ao mesmo tempo reduzir o gasto de energia; e a troca de tubulações da rede, sobretudo as de ferro e amianto que ainda existem em algumas partes da cidade. Abreu também revelou um estudo para a implantação de um Centro de Comando Operacional (CCO), com monitores para acompanhamento dos reservatórios, motores, pressão de entrada e saída, entre outros. “Hoje não temos nada disso. Tudo é feito manualmente e visualmente no local”, destacou Abreu.


Presidente da Casa, Dr. Edu Fenerich, questiona quais as reais ações que deverão ser feitas pela autarquia para sanar o problema da falta de água de alguns bairros.

Questionado pelos parlamentares sobre o porquê da falta de recursos que o SAAEJ amargou nos últimos anos, e que levou ao sucateamento da autarquia, Abreu acredita que o fato do SAAEJ ter utilizado parte do dinheiro da tarifa de água e esgoto para a coleta, destinação correta e tratamento do lixo, tenha contribuído para o agravamento da falta de recursos para a manutenção do sistema. “Esse dinheiro foi fazendo falta com o passar dos anos. Basta somar: R$ 500 mil, retirados mensalmente do orçamento, que deveria ser destinado para melhorias no sistema de água e esgoto, e tivemos que usar para recolher e tratar o lixo. Por anos, isto custava aos cofres do SAAEJ cerca de R$ 6 milhões, dinheiro que poderíamos ter usado para melhoria do sistema de água e esgoto. Soma-se a isso a inadimplência mensal, o custeio, etc,”, opinou.  

Participaram da reunião os vereadores Dr. Edu Fenerich (PPS), Carmo Jorge (PSB), Daniel Rodrigues (PSC), Luís Carlos Fernandes (PSC), Beto Ariki (PSL), Samuel Cunha (PSDB), Pretto Miranda Cabeleireiro (PPS) e Wilsinho Locutor (PSB), além dos secretários municipais de Planejamento, Paulo Polachini, e o de Obras e Serviço Público, Josué dos Santos.

Ana Paula Junqueira
Assessoria de Comunicação
(16) 3209-9478